O mundo cada vez mais digital traz grandes facilidades para todos. Mas pode ser um perigo letal se as tecnologias forem usadas com más intenções. Os especialistas classificaram o alto índice de golpes financeiros no país como uma "epidemia", em uma audiência pública convocada pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados.
Os participantes da audiência pública relataram várias falhas que possibilitam a prática de golpes financeiros, incluindo vazamento de dados bancários, baixa punição para o crime de estelionato e ausência de ação dos bancos na prevenção de fraudes com empréstimos consignados e serviços digitais.
Infelizmente, o golpe mais registrado é o empréstimo consignado enganoso com aposentados, onde eles são levados a fazer empréstimos sem seu conhecimento, muitas vezes sob o pretexto de realizar uma prova de vida. A presidente da Associação Brasileira dos Procons, Márcia Moro, relatou o problema dos vazamentos de dados bancários e do INSS, que facilitam a prática de golpes financeiros.
O coordenador da Comissão dos Direitos do Consumidor da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep), Antônio Carlos Cintra, pediu a criação de uma lei nacional que proíba empréstimos digitais para pessoas idosas, exigindo a presença física para a contratação.
Tanto Antônio Carlos Cintra quanto o delegado Rogério Ferreira destacaram a baixa punição para o crime de estelionato, especialmente relacionado ao cartão de crédito consignado. O delegado mencionou uma pesquisa que classificou o Brasil em segundo lugar em tentativas de golpes na América Latina em 2022, com 103 bilhões de tentativas.
O Programa de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), sugere que os bancos poderiam desempenhar um papel mais ativo na prevenção de golpes financeiros, utilizando algoritmos para detectar movimentações atípicas nas contas dos clientes e questioná-las antecipadamente. Um relatório do Idec aponta a falta de bloqueio, por parte dos bancos, do acesso remoto de terceiros às contas bancárias, com apenas um de quatro bancos analisados fazendo esse bloqueio.
Há um projeto em tramitação no Senado (PL 2254/22) que criminaliza a utilização de contas bancárias para fraudes.